sexta-feira, 15 de junho de 2012

Coriza



Então você volta
Sorrateiro e silencioso
Como se nunca tivesse existido.

Lentamente sinto
Ora seu abraço gelado
Ora seu sarcasmo.

Embalo-me numa cantiga
Ruidosa e constrangedora,
Silenciada pelos cobertores.

Presto a mim mesmo
O direito de lamúrias
Corajosas em contra partida.

Então seu maior medo
Vira sua atual realidade,
Nua, crua e invejosa.

Bill Olyver, 15/06/2012, 06:22

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Kinder



Ô mãe, vê se me deixa viver
Me deixa sair, por aí...
Sou assim mesmo,
Cigano, mundano, avulso.

Que culpa tenho
Se meu sagitário grita alto,
Se meu câncer busca isso,
Se meu leão acha que pode.

Eu me iludo, eu me canso
Faço a volta e desencano.
Daí o tempo passa,
Passa pela catraca e não paga.

Meus pés não criam,
Nem raízes, nem calos
São alados, sem porto
Sem seguro.

Ô mãe, abre a porta
Me deixa sair,
Eu volto, envolto de histórias
E contos, de encontros e desencontros.
Bill Olyver, 8 de abril de 2012.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Dez


Hoje o dia por pouco
Não amanheceu,
Os olhos quase quiseram
Fechar-se num cansaço imenso.

As lágrimas desesperadamente
Tentavam irrigar um coração
Que outrora pulsou em alegria.

A alma num grito seco
Foi se calando,
Em flash’s obscuros.

A voz cessou,
O vento soprou,
O corpo foi ao chão.

Havia ali um ponto final
Ansioso por grafar-se
Em uma cova de lamúrias.

Tentei ser meu deus
Na ausência de um,
Tentei por fim apagar a luz.

As mãos que um dia
Carregaram-me no colo
Lutavam sem cessar
Para que eu pudesse enfim

Renascer e novamente tentar.

Bill Olyver, 10/10/2010, 10:10 (data e horário alterados)

(11/10/2010, 19:53)

Scream


Anjos negros pendurados
Aos montes
Num céu rubro e frio.

Gritos ecoavam
Por corredores sombrios,
Mórbidos e vãos.

As luzes queimavam-se;
Se não por medo,
Entre si.

Um olhar infantil
A observar tudo
Deixava uma lágrima tímida correr.

Negando-lhe o surreal,
Um reflexo maldito
Entregava-lhe a verdade.

O mesmo menino a chorar
Agora era, sem opções
Um suicida a decompor-se.

Bill Olyver, 19 de setembro de 2010.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Converse


Saudades do que não vivi,

Amarras as quais não desfiz,

O nó que me suporta

É agora o nó da garganta.


Desaforos levados

De mãos dadas

De volta para casa,


Revoltas envoltas

Num falso manto

De calmaria,


De tudo que vivi

De tudo que sofri

Nada mais é,

Tão doloroso.


Nem tampouco

É mais frio,

Mais sombrio...


Agora estou no centro

Ou fora da circunferência;

A vontade de ser

É tão sufocante.


E nessa de querer

Por fim,

Ser alguém,

Ser ninguém...


Ceifo meu anonimato,

Exponho meu eu,

Perco-me em mim,


E por fim tropeço

No laço dum cadarço

Mal feito,


Um nó que outrora

Me suportou.


Bill Olyver, 01 de outubro de 2010, 11:34.

domingo, 11 de julho de 2010

Make-up


Das inúmeras voltas que dei
Poucas foram as que fiz fora de mim.
Dentre muitas tentativas
Sorrateira ela estava ali, sem citar.

A cada passo a sola se desgasta,
Sempre mais.
E por vezes o cadarço se contorce,
Se entrelaça e me faço um tropeço.

No compasso do mundo,
Que gira sem notar-se,
Igualmente eu caminho
Em círculos carnívoros.

As lágrimas secas se humilham
Mas nem por caridade as liberto,
Os olhos continuam secos
E o brilho falso que plantei ainda é.

Que seja forte
Enquanto a alma da lama
Está lá, silenciosa
Sem despertar de seu ilusório sono.

Bill Olyver, 11 de julho de 2010, 05:32, Curitiba.

sábado, 1 de maio de 2010

Sem fundo


Hoje eu acordei sem querer.
Dentro de mim
Resquícios de um sorriso.

Todos os dias
Por um solavanco invisível
Eu somo apenas mais um.

Mais dois, três que sejam.
Todos abandonados
E perdidos entre si.

Busco no reflexo obscuro
Um traço, um laço
Um abraço quiçá.

Mas na sinceridade
Ser sorriso na solidão
É pedir. Muito aliás.

No embaraço dos meus dedos,
Os mesmos que amarram
Meus cadarços...

No zigue-zague
Entre seus respectivos teclar
Faço mais uma das minhas.

Assim
Suja e solitária,
Como seu criador.

Bill Olyver, 01 de maio de 2010, 21:54.